Quantas vezes fazemos muito esforço para conseguir coisas que se tornam inúteis, ou que apenas preenchem um vazio causado por um sentimento de que o que temos não é o suficiente, o que somos não é o suficiente.
A autora Clarissa Estés, em seu pequeno livro chamado “O dom da História – Uma fábula sobre o que é suficiente”, conta-nos a história de uma velha senhora que tentando escapar aos horrores da guerra, encontra um velho em uma cabana, ambos assustados. Em uma véspera de natal, encontram acalento em uma história que o velho senhor conta à velha.
“NESTA NOITE NÃO TEMOS NADA – começou o velho. – Mas em outras partes do mundo há sem dúvida pessoas que podem ter muito mais do que precisam. O que é suficiente? Vamos examinar essa pergunta.”
O velho conta uma história sobre um jovem casal que vivia em um momento de escassez, pós guerra. Todos viviam com roupas em farrapos e tentando reconstruir o que a guerra tinha devastado. Acontece que a linda moça e o jovem rapaz se amavam tanto, e o afeto que tinham instigara-lhes o desejo de presentear um ao outro na noite de natal. Restara quase nada, mas a moça tinha um lindo cabelo comprido que se desenrolava quase aos pés. O amado por sua vez, também não tinha nada, a única coisa que restara era o relógio de bolso do seu avô. A moça vendeu o cabelo para comprar uma corrente para o relógio do seu amado. O amado, vendeu o relógio para comprar pentes para o cabelo da amada.
A pequena narrativa nos faz pensar nos presentes que se tornaram inúteis, e o que restara afinal era o amor que tinham para dar um ao outro.
Quantas vezes fazemos muito esforço para conseguir coisas que se tornam inúteis, ou que apenas preenchem um vazio causado por um sentimento de que o que temos não é o suficiente, o que somos não é o suficiente. “Preciso fazer mais um curso para ai sim mostrar ao mundo o que tenho”. Preciso de mais reconhecimento, dinheiro, títulos, projetos, ou seja lá o que for.
O problema não está em sonhar, ter ou ser muitas coisas. O que de fato se torna um problema é sentir que nunca estamos prontos, nunca temos o bastante, ou nunca somos o suficiente.
Qual o preço que pagamos quando não temos a justa medida das coisas? Será que “vendemos” algum bem precioso para comprar presentes inúteis? E pra você, o que é suficiente?
Tati Terres
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