“Nascemos com fortes tendências aos vícios, por conta da nossa estrutura cerebral de gratificação e recompensa e de toda a fisiologia bioquímica. Somado a isso temos as várias carências, desde as materiais até as espirituais e para suprir essa sensação de vazio e nossas deficiências tendemos aos excessos. Com isso, o ego, que é um arquétipo manifestado na forma de complexo administrador da consciência, deixa de cumprir sua maior missão, que é a de servir à alma, representante do eu superior, e se volta para a materialidade, que é finita e angustiante, por estar ligada apenas ao eu inferior.”


 

Vícios e virtudes são opostos complementares, presentes na psique coletiva, que precisam encontrar expressão consciente na mente de cada um, para evitar que fiquem inconscientes e projetados nos outros, ou que surjam polarizados patologicamente nas nossas vidas. Vício é todo hábito, geralmente com características impulsivas, obsessivas ou compulsivas, que oscila entre as atitudes de extremo excesso ou deficiência. E toda vez que uma pessoa fica polarizada, de forma unilateral e monotemática, com excesso de ação ou inação, um quadro patológico está instalado. 

Nascemos com fortes tendências aos vícios, por conta da nossa estrutura cerebral de gratificação e recompensa e de toda a fisiologia bioquímica. Somado a isso temos as várias carências, desde as materiais até as espirituais e para suprir essa sensação de vazio e nossas deficiências tendemos aos excessos. Com isso, o ego, que é um arquétipo manifestado na forma de complexo administrador da consciência, deixa de cumprir sua maior missão, que é a de servir à alma, representante do eu superior, e se volta para a materialidade, que é finita e angustiante, por estar ligada apenas ao eu inferior.

Carl Jung afirmou que “cada um tem em si algo do criminoso, do gênio e do santo”. Com isso, temos a possibilidade de reconhecer nossas carências e potencialidades, por meio da analise dos nossos vícios e tentar supri-las, não por meio de coisas externas, porque são transitórias e fugazes, mas por meio de alimentos internos, do mundo espiritual. Porém, como somos condicionados, desse o nascimento, a suprir todas as nossas carências na dimensão material, em busca desesperada de riqueza, comida, compra de coisas, aquisição de títulos, beleza estética de acordo com a moda vigente, trabalho em excesso e sem o sentido do servir ou fanatismo em religiões ou partidos políticos, para termos a ilusão do pertencimento. Tudo isso prejudica o processo de individuação, que é o caminho que o ego deve percorrer para atender ao si mesmo, em busca da realização anímica e espiritual. 

De todas essas atitudes viciantes, para tentar suprir nossas carências, o desejo de poder para dominar o outro é o mais perverso, tanto para o si mesmo quanto para seu entorno relacional, porque para dominar o outro é necessário transforma-lo em inferior, ativando suas carências e, consequentemente, seus vícios, inclusive dele depender de você. Onde se instala o poder surgem os aprisionamentos e a ausência do amor, com mais necessidade para suprir o vazio interior. 

Os vícios aprisionam e as virtudes libertam, mas para ser virtuoso é necessário transcender à materialidade, em busca de sentido e significado existencial. Neste momento a plenitude do ser supre as carências e o egoísmo dá lugar ao altruísmo, porque o sentimento de abundancia vai impulsionar para servir deixando-nos mais próximos da integralidade e do pleno, e quanto mais plenitude, mais virtude e amor e menos carências e vícios. Mas como disse anteriormente, só por meio de um trabalho de autoconhecimento, encarando a sombra, nossos vícios, que muitas vezes aparecem como atitudes politicamente corretas, e suas respectivas carências, que conseguiremos alcançar a virtuosidade do servir e amar o amor.

 

Waldemar Magaldi Filho

 

Fonte: https://www.ijep.com.br/artigos/show/transitando-entre-os-vicios-e-as-virtudes

 

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