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“A psique e a alma das mulheres têm seus próprios ciclos e estações de atividade e de solidão, de correr e de ficar, de se envolver e de se manter distante, de procurar e de descanso, de criar e de incubar, de participar do mundo e de voltar ao canto da alma. Enquanto somos crianças e meninas, a natureza instintiva percebe todas essas fases e ciclos. Ela paira bem perto de nós, e nós estamos conscientes e ativas em períodos diversos, segundo a nossa decisão”
(Clarissa Pinkola Estés)
Nossa urgência moderna nos impele a uma saga constante de tomada de decisões e ação. Somos preparadas para a adequação das exigências do dia, e provamos com muito mérito dar conta do recado. Há no entanto, algo muito importante que deixamos de observar, o nosso próprio ritmo. Quando estamos alinhadas com nossos ciclos internos estamos mais conscientes de como utilizar nossos recursos, e da direção que nos propomos a investir nossa força.
Na mitologia grega, o tempo se divide em duas personificações, Chronos e Kairós. Chronos é o deus do tempo cronológico, do prazo, do relógio, da urgência costumeira da sociedade contemporânea. Há porém, um deus esquecido em nossos dias, Kairós. O deus do tempo oportuno, da qualidade do tempo vivido, do tempo necessário para que as coisas aconteçam ao seu modo, aquele que regula os ciclos naturais.
Com a chegada da primavera lembrei-me de uma memória da infância. Cresci muito próxima à natureza e gastava horas do meu dia observando o instante das coisas, não era o sol que se punha, mas o escuro que chegava. Era assim que os ciclos das estações do ano se apresentavam para mim. Não era o calendário que me dizia que a primavera se iniciava, mas as flores do campo que enchiam a grama verde.
O esquecimento da natureza instintiva, citada por Clarissa, é o motivo pelo qual muitas vezes nos exaurimos obedecendo demandas sem fim, sem dar a devida atenção para a pausa e a ação, para o silêncio e o barulho, para o abastecimento da força e da ação no mundo.
Tati Terres