Imagem: Ricardo Cejudo Nogales
“Se uma história é uma semente, então nós somos seu solo”
(Clarissa Éstes)
“Se uma história é uma semente, então nós somos seu solo. O ato de ouvir uma história nos permite vivenciá-la como se nós mesmas fôssemos a heroína que cede diante das dificuldades ou que as supera no final. Se ouvimos uma história de um lobo, depois disso saímos a perambular e a ter o conhecimento de um lobo por algum tempo. Se ouvimos uma história de uma pomba que afinal encontra seus filhotes, então, por algum tempo depois, algo fica se movendo por baixo do nosso próprio peito emplumado. Se se trata de uma história de resgate da pérola sagrada das garras do vigésimo dragão, sentimo-nos depois exaustas e satisfeitas. Num sentido muito real, ficamos impregnadas de conhecimento só por termos dado ouvidos ao conto.
Entre os junguiamos, isso se chama ‘mística da participação’ – um termo tomado de empréstimo do antropólogo Lévy-Bruhl – e é usado para designar um relacionamento no qual ‘a pessoa não consegue se distinguir como entidade separada do objeto observado’. Entre os freudianos, é uma atitude chamada de ‘identificação projetiva’. Entre os contadores de histórias, ela é chamada de ‘magia solidária’ – querendo dizer a capacidade da mente de se afastar do seu ego por um tempo e se fundir com uma outra realidade, ali vivenciando e aprendendo ideias que ela não pode aprender em nenhuma outra forma de consciência para depois trazê-la de volta à realidade consensual. ” (Clarissa Éstes)
Os contos e mitos transcrevem experiências da humanidade, carregados de figuras arquetípicas – reis, princesas, bruxas, dragões etc. – e situações que metaforicamente representam o próprio caminho de desenvolvimento da psique. Acessamos a dimensão simbólica, e entramos em contato com as nossas imagens internas para que elas nos auxiliem a compreender dramas e conflitos internos, assim como apontam caminhos para o amadurecimento.
Em Arteterapia, o recurso literário pode ser trabalhado junto a recursos expressivos como pintura, desenho, modelagem, colagem, criação de esculturas entre outros. Assim, é possível materializar nossas imagens internas possibilitando um diálogo entre o inconsciente e a consciência.
Tati Terres